Soneto
Ás vezes quando chora amargamente
Meu doido coração de sonhador,
Pisado em falsas lides dum amor
Ou julgado por mau injustamente
Busco um olhar amigo e, francamente,
Só vejo ao meu redor o desamor
Brilhar, com diabólico fulgor,
Em olhos escarninhos de demente!
Então eu busco a voz linda, encantada,
Da minha pobre lira abandonada
Que tange a minha dor e a torna em oiro…
Por isso a minha lira, pobrezinha,
Que é tão pobre que a sua posse é minha
Vale p´ra mim bem mais do que um tesoiro.
Sebastião Leiria
Tavira, Abril de 1940