Mote
Como são curtas as horas
Desde a hora em que te vi
Quando as passo como agora
Enlevado ao pé de ti
Isidoro Pires
GLOSAS
I
Meu amor, a vida inteira
Daria, por bem fazer,
Se essa fosse a maneira
De eu ficar nesta cegueira
Em que cego por te ver.
Olhar sempre os olhos teus,
Onde as noites são auroras,
Como eu queria, meu Deus!
Mas…desses encantos meus,
Como são curtas as horas!
II
Corre o tempo em tal correr,
Sempre que estou a teu lado,
Que nem te chego a dizer
Como é grande este querer
Que me faz ficar calado.
E vivo numa inquietude
Se não estou ao pé de ti…
Só em ti acho virtude
E nada mais já me ilude
Desde a hora em que te vi.
III
Horas há na minha vida
Que a vida afaga ou condena;
Se estou contigo, é vivida,
É a hora apetecida…
Se não estou, é a da pena.
À primeira tenho amor,
…Mesmo à outra…muito embora
Sejam de enlevo ou torpor,
Dão-me da vida explendor
Quando as passo como agora.
IV
E se a pena me dá mágoa
Por que lhe quero não vejo…
Mas acho que a própria frágua
Fustigada pela água
A aceita como um beijo.
Se então, amor, tudo é belo,
E às penas pena perdi,
Só puro amor, doce anelo
Embalam o meu desvelo
Enlevado ao pé de ti.
(Xácara)
Sebastião Leiria