Como são curtas as horas…

Dezembro 26, 2021
Dezembro 26, 2021 Helena Leiria

Como são curtas as horas…

Mote 

Como são curtas as horas

Desde a hora em que te vi

Quando as passo como agora

Enlevado ao pé de ti

 

Isidoro Pires

            

GLOSAS

I

Meu amor, a vida inteira

Daria, por bem fazer,

Se essa  fosse a maneira

De eu ficar nesta cegueira

Em que cego por te ver.

 

Olhar sempre os olhos teus,

Onde as noites são auroras,

Como eu queria, meu Deus! 

Mas…desses encantos meus,

Como são curtas as horas!

II

Corre o tempo em tal correr,

Sempre que estou a teu lado,

Que nem te chego a dizer

Como é grande este querer

Que me faz ficar calado.

 

E vivo numa inquietude

Se não estou ao pé de ti…

Só em ti acho virtude

E nada mais já me ilude

Desde a hora em que te vi.

 

III

Horas há na minha vida

Que a vida afaga ou condena;

Se estou contigo, é vivida,

É a hora apetecida…

Se não estou, é a da pena.

 

À primeira tenho amor,

…Mesmo à outra…muito embora

Sejam de enlevo ou torpor,

Dão-me da vida explendor

Quando as passo como agora.

 

IV

E se a pena me dá mágoa

Por que lhe quero não vejo…

Mas acho que a própria frágua

Fustigada pela água

A aceita como um beijo.

 

Se então, amor, tudo é belo,

E às penas pena perdi,

Só puro amor, doce anelo

Embalam o meu desvelo

Enlevado ao pé de ti.

                                                   

(Xácara) 

Sebastião Leiria