Cravos de Papel

Junho 2, 2021
Posted in S. João
Junho 2, 2021 Helena Leiria

Cravos de Papel

S. João p´ra ver as moças

Fez uma fonte de sonho;

As moças não vão à fonte,

S. João fica tristonho.

 

Fiz um mastro à minha porta

P´ró meu amor vir bailar;

De esperar estou quase morta,

E o meu amor sem chegar.

 

S. João vê o que fazes,

Não estragues minha alegria;

Se há p´raí tantos rapazes

Não quero ficar p´ra tia.

 

Tenho um cravo na lapela

E na mão um manjerico,

Mas quando bailo com ela

Só então me sinto rico.

 

Aquele é feio, dou-lhe “tampa”,

Que importa a sua riqueza?

Ele vem: – Você dança?

– Se danço? Mas com certeza!

 

Olho p´ra ti com amor

Mas teu olhar está ausente;

Tu não vês o mastro em flor!

Quem tu vês não está presente.

 

S. João, se és meu amigo,

Dá-me o moço que eu gostar,

P´ra ficar sempre comigo

P´rá festa nunca acabar.

 

Fogueiras da minha rua

Que algum dia eu acendi!

Que é das moças? Que é dos sonhos?

Que é do que em mim eu perdi?

 

Quando estoirei a cartilha

Minha sogra pôs-se em brasa;

Foi p´ra casa com a filha

E eu… fui com o grão na asa.

 

Toma lá este valverde,

P´ra poderes alumiar

O caminho em que se perde,

Da cegueira, quem amar.

 

Nas voltas do corridinho

Não deite volta ao compasso;

Mas à volta, no caminho,

Soubeste as voltas do laço.

 

Fui ver a cara na água,

Já meia noite era dada;

Não a vi, mas vi a tua,

Por sobre mim debruçada.

 

Quando eu com ele bailar,

Não pares mais, tocador;

P´ra toda a vida ficar

Abraçada ao meu amor.

 

Muitas moças vão na roda,

À roda da tua saia;

E a rodá-la a noite toda

Esperas em vão que ela caia.

 

Sebastião Leiria