S. João p´ra ver as moças
Fez uma fonte de sonho;
As moças não vão à fonte,
S. João fica tristonho.
Fiz um mastro à minha porta
P´ró meu amor vir bailar;
De esperar estou quase morta,
E o meu amor sem chegar.
S. João vê o que fazes,
Não estragues minha alegria;
Se há p´raí tantos rapazes
Não quero ficar p´ra tia.
Tenho um cravo na lapela
E na mão um manjerico,
Mas quando bailo com ela
Só então me sinto rico.
Aquele é feio, dou-lhe “tampa”,
Que importa a sua riqueza?
Ele vem: – Você dança?
– Se danço? Mas com certeza!
Olho p´ra ti com amor
Mas teu olhar está ausente;
Tu não vês o mastro em flor!
Quem tu vês não está presente.
S. João, se és meu amigo,
Dá-me o moço que eu gostar,
P´ra ficar sempre comigo
P´rá festa nunca acabar.
Fogueiras da minha rua
Que algum dia eu acendi!
Que é das moças? Que é dos sonhos?
Que é do que em mim eu perdi?
Quando estoirei a cartilha
Minha sogra pôs-se em brasa;
Foi p´ra casa com a filha
E eu… fui com o grão na asa.
Toma lá este valverde,
P´ra poderes alumiar
O caminho em que se perde,
Da cegueira, quem amar.
Nas voltas do corridinho
Não deite volta ao compasso;
Mas à volta, no caminho,
Soubeste as voltas do laço.
Fui ver a cara na água,
Já meia noite era dada;
Não a vi, mas vi a tua,
Por sobre mim debruçada.
Quando eu com ele bailar,
Não pares mais, tocador;
P´ra toda a vida ficar
Abraçada ao meu amor.
Muitas moças vão na roda,
À roda da tua saia;
E a rodá-la a noite toda
Esperas em vão que ela caia.
Sebastião Leiria