(Pela morte de sua mãe)
Não sei o que perdi
Quando morreste, Mãe…
Amor
Carinhos
Sorrisos sãos
E os beijos que me dava o teu olhar
Quando me vias alegre e a cantar,
E os beijos que me dava o teu olhar
Quando me vias triste e a chorar…
Perdi
Não sei o que perdi…
O teu sofrer por me ver sofrer,
O teu anseio por me ver curar,
E as lágrimas ardentes
Doídas
Amargas
Pungidas
– A reluzirem fé –
Diamantes da alma
Com que compunhas a oração,
A Deus,
Para que eu não morresse na operação…
Não sei o que perdi…
Partitura esquecida
Que o pó vai cobrindo
Nos papéis velhos
Dum artista antigo
Fiquei.
Jamais escreves em mim
As ternas melodias
Do teu Amor de Mãe
Parou…
Nem mais um compasso…
Ficou ainda tanta pauta em branco!…
Perdi…
Os olhos do artista que me via
E lia
Tal como sou…
Que me deu esta forma
Que eu amo
Porque a amou…
Agora,
Tanto fica do meu ser
Que ninguém sabe ler!…
Não sei, Mãe, Amor,
Não sei…
O que perdi é mais
É muito mais que tudo isto…
É qualquer coisa que não sei dizer,
Nem vejo,
Porque se esconde
Bem no meio do meu sofrer.
Sebastião Leiria, Tavira,
13 de Setembro de 1946