Aquela menina
Calada, franzina,
Que eu conheci,
Ficava p´las tardinhas à janela,
Ali…
E a falar com ela
Alguém eu não vi.
Seu ar era triste
Como o que existe
Nas coisas antigas…
E mesmo quando às vezes a buscavam
Amigas,
Não ia. Voltavam
As mais raparigas.
Nem bailes, nem festa,
A nada se presta,
E nada a seduz;
Às vezes, pela mão, uma velhinha
Conduz!
Avó que ela tinha
Já quase sem luz.
Céguinha já estava
Pois já só andava
P´los passos da neta…
…Um dia, ao sentir-se fenecer,
Inquieta,
Faz-lhe receber
`ma caixa repleta.
Pedras preciosas,
Jóias valiosas,
Libras mais de cem!…
E a pobrezinha num tremor vacila…
Porém…
Não vê que, tranquila,
Avó já não tem.
Se triste já era,
Mais triste e severa
Menina ficou…
Não lhe ensinou a vida o amor!
Rolou…
Riqueza, valor,
Nada lhe acordou.
Menina tristonha
Que a vida não sonha,
Tristeza pensou!
As jóias numa noite deu ao mar…
Chorou!…
…E o mar veio buscar
Essa que ficou.
Sebastião Leiria
Tavira, 18 de Agosto de 1971