Menina Triste

Dezembro 26, 2021
Dezembro 26, 2021 Helena Leiria

Menina Triste

Aquela menina

Calada, franzina,

Que eu conheci,

Ficava p´las tardinhas à janela,

Ali…

E a falar com ela

Alguém eu não vi.

 

Seu ar era triste

Como o que existe

Nas coisas antigas…

E mesmo quando às vezes a buscavam

Amigas,

Não ia. Voltavam

As mais raparigas.

 

Nem bailes, nem festa,

A nada se presta,

E nada a seduz;

Às vezes, pela mão, uma velhinha 

Conduz!

Avó que ela tinha

Já quase sem luz.

 

Céguinha já estava 

Pois já só andava

P´los passos da neta…

…Um dia, ao sentir-se fenecer,

Inquieta,

Faz-lhe receber

`ma caixa repleta.

                 

 Pedras preciosas,

 Jóias valiosas,

 Libras mais de cem!…

 E a pobrezinha num tremor vacila…

 Porém…

 Não vê que, tranquila,

 Avó já não tem.

                 

Se triste já era,

Mais triste  e severa

Menina ficou…

Não lhe ensinou a vida o amor!

Rolou…

Riqueza, valor,

Nada lhe acordou.

 

Menina tristonha

Que a vida não sonha,

Tristeza pensou!

As jóias numa noite deu ao mar…

Chorou!…

…E o mar veio buscar

Essa que ficou.

                               

Sebastião Leiria

Tavira, 18 de Agosto de 1971