Se eu pudesse juntar
Um bocado de céu
Com o azul do mar
O fogo do inferno
O verde que se arrasta pelos campos
Quando vem o inverno,
Um rasgo de luar…
Mas não…
Nunca, nem mesmo assim
Conseguia formar
A cor do teu olhar
Sem fim.
Sinto que não posso mais
Fugir a esse encanto
Que tens no teu olhar,
Doce e cruel,
Maldoso e santo.
Misto de céu e de inferno,
De senso e loucura
Teu olhar me seduz
Na doce luz
Duma ventura.
Nesse mundo de sonho
Que em teus olhos transluz,
Eu vejo a onda imensa
Dum desejo de amor
Desejo, de que és escrava e te consome,
Sem nada te valer…
Sem nada te valer…
Vê lá…
O que em teus olhos li…
Que me nasceu amor,
De ter amor, amor por ti.
Sebastião Leiria, Tavira, 1947
Valsa da Revista Ferro ao Fundo