Porta

Janeiro 30, 2022
Posted in Poesia

Porta

Tavira foi sempre isto.

Sempre este eterno mar, verde, azul, cintilante, a rolar sobre os dourados pés das suas praias. Sempre esta fita de veludo azul que vem da serra e lhe deixa no peito túmido a carícia sinuosa do Gilão em busca do mar. Sempre estas amendoeiras que a perder de vista a florescem de pureza, e á noite se presente que árvores em flor e moiras do antigo encanto se dão as mãos e dançam voluptuosamente na evocação de insatisfeitos amores. Sempre este mesmo plumoso recosto de montes esmeraldinos, onde manchas de austeras alfarrobeiras ordenam alegres figueirais ou místicas oliveiras. Estes vergéis envolventes que lhe mandam o perfume das laranjeiras e nespereiras e da rosa da Alexandria.

Tavira foi sempre este travesso trepar de casario branco pelas colinas de Santa Maria, São Brás, Santa Ana, São Francisco, ou ruas do Mau Foro, dos Mouros, das Freiras, e em paz se estende ordenado, depois, pelas planuras da Ribeira.

Tavira, as vinte igrejas a rezar, campanários tilintando elevação, bondade, harmonias derramadas no coração. Surpresa de vincados contrastes, sombra de merlões contra a chapada do sol, tortas vielas mouriscas contra ruas largas para o céu, ou por sob o acetinado dossel de frondosos arvoredos.

Tavira, jardins salpicando aguarelas, procissão de amenizadores telhados de tesoura, horas de sonho espreguiçadas nos mirantes, fontes antigas, reixas arrendadas, chaminés em despique de poesia, muralhas sobranceiras de castelos e, quando o ventinho mareiro sobe à terra, este cheiro a marisma, a sapeiras esmagadas que faz respirar força e gozo.

Que canseira de prazer!

E logo Emiliano da Costa vem à sua varanda sobre o rio, florida de roseiras e “ flores melindres” exclamar em enlevo.

“Tavira  – um sonho à beira mar!…

Ah! Como não havia de eu ficar

Assim  – Um doido pela minha terra” 

 

em Jornal do Algarve, 6 de Abril de 1963.

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