Mote
Quero-te assim, mesmo feia
Porque és feia bem fadada,
– A luz de qualquer candeia
Traz a noite iluminada
Isidoro Pires
GLOSAS
I
Se ser feio é ter bondade,
Ser dedicado e leal,
Ter amor…ter caridade…
Evitar suceda o mal…
Se confortar a quem pena
E ter um coração puro,
– Como tu, linda pequena!-
É isso feio?…Eu te juro
Que não desprezo a ideia,
Quero-te assim, mesmo feia.
II
Sabes bem que a formusura
O Tempo a leva consigo,
Mas nunca leva a ventura
Da graça que anda contigo…
Essa graça feiticeira
Que é a razão da minha dita,
Não me dá outra maneira
De ver-te, se não bonita…
Se és feia, não vejo nada
Porque és feia bem fadada.
III
Feia, sim, é essa mágoa,
Esse pensar que envenena…
Põe-te os olhos rasos d´água
E à tristeza me condena.
Amor…pára! Crê em mim
E põe fim às nossas penas
P´ra que a nós não ponham fim!
Receio as coisas pequenas…
– Uma floresta incendeia
A luz de qualquer candeia!
IV
Pára…e vem com um sorriso!
Traz em teus braços abertos
O bem desse paraíso
De que os meus andam desertos,
É tempo,- Amor! – não demores,
E que em ti se não acoite
Mais nenhum dos teus temores,
Pois, mesmo que seja noite,
Tua vinda abençoada
Traz a noite iluminada!
(Marte)
Sebastião Leiria