Agosto!
Esbraseia-me o rosto
A chama do sol posto.
A terra arde lá p´ra o ocidente,
Clarão!
Já todo o horizonte é sangue ardente,
Vencendo o azul do céu por mais potente,
Queimando as brancas nuvens em zarcão.
No céu
O vivo fogaréu
Alastra de escarcéu.
Por trás do S. Miguel, que vulcão!
Jesus!…
Na contra luz o cerro é um carvão,
Faz frente ao fogo, agarra-se ao chão,
E a crista em ala viva é toda luz!
A serra
Vencida, foge à guerra
Do incêndio que a aterra…
Dos roxos montes de Santa Maria,
Largar!
Altos e baixos, toda a serrania,
Debanda para a frente em correria
Na esp´rança de poder chegar ao mar.
A ria,
Que pouco a pouco enchia,
O incêndio a divertia.
O vermelhão da c´roa do poente,
Tesouro!
No ondear punha anéis de serpente,
De fogo de magia, não ardente,
E os peixes que saltavam eram de ouro.
Da Ilha
Diviso a maravilha
Da cidade, na milha.
P´las baixas ou colinas altaneiras,
Zimbórios!
Doiradas torres da fé mensageiras
Leve tilintam vésp´ras nas sineiras,
Quais relíquias saídas de cibórios!
Que luz!…
De mística conduz
À dos braços da Cruz.
E as sombras, aos contrastes, às chapadas
De cal
Do casario, em brincadeira p´las colinas,
De tombo em tombo acabam derrotadas
Nas pirâmides egípcias de sal.
Jardins!
Suspensos de jasmins
Sinoplas e carmins!
Verdes e sombras vão banhar-se ao rio,
Fulgores!
Heráldicas palmeiras no rossio
Emprestam dignidade ao ingresio
Das flores e dos pardais aos pescadores.
Gaivotas,
Em elegantes rotas,
Enfloram galeotas.
Gaivinas em chilreio cruzam a ponte
No ar…
As lavadeiras batem lá p´ra fonte,
Um rebanhito desce pelo monte,
E as mães dos moços chamam p´ra jantar.
Que paz!…
Que sossego nos traz!
Como isto nos apraz!…
O sonho oriental revive a doura,
Magia!
Mirantes e telhados de tesoura…
Por trás das reixas estão olhos de moura…
…E encantamentos há em cada dia!
Que belos
Mosteiros e castelos!
Como custa já vê-los…
Cobriam tudo as dobras da noitinha…
Miragem?
Teria tudo sido ilusão minha?
– É Tavira.- Me disse alguém que vinha.
…E deixei-me ficar em homenagem.
Sebastião Leiria
18 de Agosto de 1971