Mote
Tudo se lê num olhar
Porque os olhos, sem ter voz,
Dizem mesmo sem falar
O que vai dentro de nós.
Virgínio Pires
GLOSAS
A ternura ou o amor
Como a tristeza ou a dor
Não se podem ocultar;
Ainda que a gente queira
Esconder, – não há maneira!…
Tudo se lê num olhar.
Um olhar tudo confessa
Desde a repulsa à promessa,
Do ciúme à mágoa atroz…
E não adianta fingir,
Quer chorando, quer a rir,
Porque os olhos sem ter voz…
Tudo dizem francamente
Naquela luz que não mente
E é espelho d´alma a brilhar…
Até isso que se cala,
Que a gente sente e não fala,
Dizem mesmo sem falar!
Mais que mensagem ardente,
Mais que palavra fluente,
Num só relance, veloz,
Um olhar segreda em chama
A alguém a quem se ama
O que vai dentro de nós.
(Vero)
Sebastião Leiria
3º Prémio dos Jogos Florais de Tavira em 11 de Agosto de 1970